Sábado, 24 de Dezembro de 2005
Queria tanto poder beijar-te e murmurar-te ao ouvido...
Um Feliz Natal meu amor!
Ficou-me na memória este poema de Eugénio de Andrade, que a Manela pediu para eu fotocopiar quando se separou... e moldurou ... e pôs na parede do seu quarto. Hoje dei com ele e, não sei porquê, decidi publicar aqui... (logo hoje, véspera de Natal...)
Adeus...
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes
E eu acreditava.
Acreditava.
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco, mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor
já se não passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
in «Os Amantes sem Dinheiro» (1950)
Sábado, 17 de Dezembro de 2005
vieste ao meu sonho...
...na minha solidão, as tuas mãos percorreram o meu corpo
cálidas
impacientes
viajantes de memórias de ti!
Talvez um dia acorde entre os teus braços...
e o silêncio guardará, na transparência de mim
todas as palavras que poderiam ser ditas
e não serão
não vão elas arruinar
a perfeição!
Sexta-feira, 16 de Dezembro de 2005
Se eu pudesse voar
voaria para onde tu estás
deitaria-me ao teu lado
Enquanto descansavas
passava só um bocadinho
só um bocadinho de tempo contigo
Com intensidade e simplicidade
Ouviria o teu respirar
Ouviria o teu coração a bater
Estaria tão perto
que empurrava o medo
Venho ver todas as lágrimas
Venho ver todos os sorrisos
com olhos de borboleta...
"A nossa história começa na total escuridão
Onde o mistério ultrapassa a nossa compreensão
A nossa história é o esforço para alcançar a luz
Meu amor, o impossível seduz..."*
... este sonho impossivel em que me deito
este acordar impossivel que nos oprime
este viver no limiar do esquecer ou acordar ...
... porque seduz o impossivel, meu amor?
*Jorge Palma